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sexta-feira, 24 de abril de 2015

O que é o fim do mundo perto da depressão? Eis a poderosa metáfora de ''Melancholia''.

''The earth is evil. We don't need to grieve for it. Nobody will miss it''. 



Um planeta chamado Melancolia está prestes a colidir com a Terra, o que resultaria em sua destruição por completo. Neste contexto Justine está prestes a se casar com Michael. Ela recebe a ajuda de sua irmã, Claire, que juntamente com seu marido John realiza uma festa suntuosa para a comemoração.


''Melancholia'' figura entre os meus filmes dramáticos favoritos da atualidade. Escrito e dirigido pelo polêmico Lars Von Trier, o longa apresenta uma atmosfera e sentimentos pesados que nos levam a inquietação, provocando reflexões sobre tudo em nossa volta e coloca o ser humano no ápice de uma depressão assustadora e cruelmente realística, independente do conteúdo esteticamente fantasioso e de ficção científica. Sempre que pensamos no fim do mundo geralmente vem em nossa mente imagens absurdas, de alguma forma gostamos de fantasiar e levar para outros lados, e nesse enigmático e surpreendente drama, o diretor explora tudo isso de uma maneira avassaladora! 




Odiado e amado, uma coisa é certa: quase impossível ficar indiferente a filmografia de Lars Von Trier. Quem gosta de megalomania, tramas transgressoras, vai amar, quem infelizmente enxerga  o mundo com o que apenas quer ver, vai odiar. Estamos falando algo vai além do que paramos pra pensar, são feridas e questões presentes na nossa sociedade que acredito eu nunca vai acabar e temos a arte pra mostrar isso ao mundo e diminuir essa dor que todos nós sentimos com a realidade. O mais incrível em Lars Von Trier não é (pelo menos o que eu percebi) jogar verdades absolutas e sim entender que o ser humano é diferente um do outro, é provocar reações, sentimentos diversos, cada um vê suas obras cada qual com sua maneira e isso é o que faz dele um artista que merece todo meu respeito. Baseado nesse fator, que deixo minha crítica aqui. É totalmente pessoal.




''Melancholia'' tem tudo que o diretor costuma fazer: tabus, estéticas cruas, diálogos incomuns aos padrões cinematográficos e o que mais me chama atenção e me fascina: o esgotamento psicológico dos personagens. Tudo isso jogado nesse liquidificador torna ''Melancholia'' fora do senso comum, pouco acessível e uma obra-prima do cinema moderno. Aqui encontramos duas belas mulheres, numa jornada  extrema  e típica de Lars Von Trier, representando a visão que o diretor tem da natureza humana. 

No filme vamos encontrar lutas constantes, da própria natureza humana de se preservar através de um sofrimento profundo de crises existenciais. O que torna um buraco negro em tudo que as personagens do filme vivenciam é a morte parecer fazer sentido diante de uma vida com esgotamento emocional e além de aceitá-la e também cultuá-la. Um espécia de se entregar ao incerto, querer ser exterminado e achar que merecemos isso. Forte, impactante e polêmico. O diretor numa de suas dinâmicas é potencializar seu universo, junto com personagens complexos e sem a preocupação de ensinar qualquer coisa, uma grandiosidade que pode incomodar os mais insensíveis. Talvez deixar o filme falar por si próprio.


Em ''Melancholia'' o mundo está prestes a acabar, isso atinge em cheio duas irmãs, Justine e Claire, defendidas magistralmente pelas ótimas Kirsten Dunst e Charlotte Gainsbourg. A partir disso, começa a nascer a depressão na trama, um tema que o próprio diretor entende muito bem e já vivenciou em sua vida. 

A arte do longa é incrível, artística e elitizada, mostrando em forma de fantasia o que vem a ser a trama em seguida, já é firmado a atmosfera pesada e os sentimentos dos personagens. Tudo simbólico, com frieza, crueldade e magnetismo. Ainda na introdução avassaladora de ''Melancholia'', temos Justine vestida de noiva tentando escapar de galhos de árvores que a agarram, a personagem numa tentativa de fugir do que sentia: tristeza, frustração e o famoso esgotamento psicológico de Lars Von Trier, onde no decorrer de suas vivências vem a se tornar depressão. O casamento de Justine era uma tentativa falha de se ver livre de tudo isso, mas ela estava vivendo só na ponta do iceberg.

A analogia principal já faz tremer os pilares da trama,  conforme o fim do mundo se aproxima, a esperança das personagens vão diminuindo, tudo na personificação de sentimentos em um planeta que ao chocar com a terra vem para acabar com tudo. Ambiguidade? 




''Justine, interpretada por Kirsten Dunst surge em cena esbanjando felicidade por seu casamento com Michael, revelando aos poucos sua verdadeira personalidade: uma mulher entristecida, que sorri apenas por saber que é isso que todos esperam dela – algo evidenciado pelas constantes indagações sobre sua felicidade: “você está feliz?”, perguntam insistentemente os convidados de seu casamento – e que, não hesita em entregar-se à uma expressão cansada e – claro – melancólica, assim que se encontra em seu intimo''. 

Junto as vivências de Justine, encontramos sua irmã Claire, mulher segura, séria, sempre com autoridade  e querendo tomar partido das situações,  com tentativas de sobressair a irmã. Nas cenas da primeira parte do filme, enquanto ainda estão celebrando o casamento, Claire chega ser odiosa, ela quer mandar na irmã, não respeita sua dor, é impressionante os embates e a forma que Lars Von Trier lida com a comunicação falha de duas irmãs de mundos diferentes. Enquanto isso, o fim do mundo vai ganhando proporções. É incrível perceber que ao passar do tempo, o acumulo de sentimentos, principalmente de Justine e sua total falta de interesse com o mundo, as irmãs se invertem. Justine começa ganhar mais poder sobre si mesma, coloca seus pés no chão e encara o que está para acontecer, ciente do fim do mundo e sua tristeza profunda. Claire começa a ficar desesperada, sem rumo com tudo em sua volta e até por não conseguir dominar as situações que se encontra junto com sua irmã e família.




Os pontos altos do filme, além de toda fantasia e realidade misturadas a apresentadas de forma mágica, uma direção perfeccionista e provocativa, passeia por tudo isso a dinâmica entre as irmãs, que é fantástico o modo que enfrentam seus medos, agonias e frustrações com a vida. Enquanto isso o mundo vai ficando cada vez ''menor'' e Claire antes não se importava com isso, no ápice de toda essa adrenalina psicológica começa a sair de si, o desespero que nunca vi igual, é sentimentos diversos, é o que o ser humano pode sentir além do comum, mesmo que ainda visto como ficção, eu acredito nessas possibilidades.


''Melancholia'' incomoda e muito. O que eu poderia dizer basicamente se alguém me perguntasse sobre o filme numa roda de amigos: a experiência de um apocalipse ainda mais desesperador: dentro de nós mesmo. A magia e genialidade de interligar duas catástrofes, naturais e humanas e que nada vai ser mais assustador que lidar com nós mesmos, o ser humano diante do caos  e  tudo em nossa volta, independente do que seja, se torna apenas alegorias. Lars Von Trier tira toda a sutileza que poderia existir nos temas abordados em ''Melancholia'' e inseriu essa metáfora genial e muito clara que podemos ilustrar sobre a depressão: ''Um planeta atingindo nosso mundo. O fim, é o fim em si mesmo''.




Lars Von Trier sempre colocou muita responsabilidade em cima de si, principalmente a tarefa de fazer o público SENTIR, independente da visão de cada um, É o entrar na trama, refletir e buscar até rever nossos conceitos através de personagens lidando com suas naturezas cruas. Ao parar para analisar, tudo no longa é muito simples, comparando com filmes anteriores do diretor, mas a eficiência de explorar com detalhes e perfeição a natureza humana é que deixa ''Melancholia'' sensacional. 


A cena final me deixou muito inquieto, até hoje passeia pela minha mente tudo que eu vi e tudo que eu pude sentir com essa experiência cinematográfica. Cada vez que eu penso, faço minhas reflexões mais tenho certeza de quanto somos pequenos diante de tudo que pode acontecer com a gente, meros mortais.

Nota: 10

3 comentários:

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  2. O filme é fantástico. E amei o modo como o descreveu, pois você captou tudo que o filme transmitiu. E é algo que nem todos veem. Eu o assisti pela segunda vez com meu namorado e ele não sentiu tudo que eu senti ao assistir. Isso me incomodou... Te desejo paz e um feliz ano novo adiantado. Ass: Rayanielly Lima

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