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sexta-feira, 24 de abril de 2015

Crítica: FROOT: Marina está pronta pra ser colhida!





''FROOT'' é o terceiro álbum da cantora, compositora, multi-instrumentista e produtora Marina Diamands, que usa o nome artístico ''Marina and The Diamonds''. Trabalho lindo, autêntico e muito criativo no seu conceito principal: usar frutas como metáforas para tudo que a artista teve vontade de expressar nessa criação totalmente dela, que trabalhou também como compositora e produtora. Marina está deslumbrante, cheia de carisma como sempre, uma presença sem apelações, tudo muito elegante e mágico. O álbum me conquistou em cheio com seu resultado pop mais experimental, pegadas de new wave e synthpop dos anos 80, indie pop e rock. Uma viagem musical, onde Marina expressa suas emoções através de seus clipes contagiantes e letras sobre sentimentos de uma moça romântica, decidia e madura. Alguém que aprendeu com os tropeços da vida. 

O visual de Marina está misto: toda trabalhada nos anos 70, o que pode ser conferido nas suas fotos promocionais, fotos pessoais e lives das canções de ''FROOT'', por exemplo, totalmente vintage, uma grande artista moderna que se tivesse nos anos 80 faria ainda mais sucesso. Ela é a cara da década desde os seus primeiros trabalhos. Anos 70 e 80 numa mistureba incrível, já que intenção é apenas uma revival e que pode trazer uma certa nostalgia não só para os mais velhos e sim para nós jovens que curtimos músicas atemporais, para não dizer antigas, até porque existe ainda muito preconceito com tudo que vem do passado. 

Com esse trabalho, Marina se mostra ainda mais inteligente, sempre com ótimos argumentos e até mesmo incompreendida por ter um pensamento mais apurado e ir contra toda essa industria pop que se instalou no mundo, principalmente as ditas ''divas pop'' que estragaram o cenário de um estilo musical que poderia nunca ter ''morrido'' nas décadas passadas. Com Marina, vejo que nem tudo está perdido e que podemos sim, ter pop de qualidade, como tudo que é artístico e feito para ser levado em consideração, acima de tudo como um trabalho sério, recheado de autenticidades.  

Por trás de cada canção do ''FROOT'' existe uma história, são temas universais, que todos podemos nos identificar, mas com assinatura de quem faz poesia com a dor de um término de relacionamento, por exemplo. É um mundo particular do artista, que desabrocha na nossa imaginação e faz com que tudo isso ao mesmo tempo se torne todos nós diante do que vivenciamos no nosso cotidiano. Cada canção do álbum você percebe a artista, sente que é verdadeiro, é isso que a música tem que passar e pode ser trabalhado em qualquer estilo musical, desde que nunca perca  sua visão de mundo e como quer apresentar isso; as mudanças existem, mas essência não muda. Nadar contra maré é para poucos e Marina conseguiu atingir uma magnitude que eu nunca tinha ouvido antes quando se fala do cenário pop atual. 


"Maybe I was ready to change. Maybe I was ready to leave a lot of things I'd held onto in the past behind. I don't know if that happens to other people when they hit a certain age, or maybe some people don't even have those issues to begin with. Perhaps it's not very common, but I know that it was important for my future."


Marina sobre ''FROOT''




Ao contrário do também excelente ''Electra Heart'', com uma Diamands cheia de rancor e debochada, em ''FROOT'' ela trabalha o desapego, e LIBERTA SUAS DORES, como disseram em várias críticas pela internet. Uma exteriorização de uma Marina totalmente madura, que aprendeu com os ilusões amorosas, agora está pronta para seguir em frente e ciente dos seus defeitos, pois ninguém é perfeito, infelizmente. 

As letras do álbum são bem trabalhadas, todas com suas qualidades, mas sempre existe aquelas canções que gostamos mais ouvir. Eis algumas que eu gostaria de citar:

(são analises pessoais, o que eu pude compreender de cada canção, longe de querer ser o dono da verdade)

''Happy'' mostra que Marina está feliz, encontrou nela mesma o que ela tanto procurava, uma felicidade. Ela está pronta para seguir com sua vida, ela está mais forte e livre. A canção também pode ser interpretada com uma pegada de religiosidade, mas Happy é tão linda, poética e ''angelical'' e não tem porque tirar seu brilho, já que teve gente torcendo o nariz. É a vida dela, ela tem direito acreditar em divindades e isso não diminuiu toda a emoção que ela quis passar.


''FROOT'' é uma canção dançante, totalmente vintage anos 80, com sonoridade de vídeo-games. É Marina brincando metáforas brilhantemente. Usando frutas para expressar ela mesmo diante da vida, totalmente madura, com pés no chão. Ela está pronta pra ser colhida, está forte, suave e plena, se libertou e agora espera uma nova aventura.



''I'm a Ruin'' apresenta uma Marina que viveu um relacionamento conturbado, uma mulher frágil em alguns momentos e até mesmo sem auto-estima. Ela mostra que contribuiu para o desabamento do relacionamento, que poderia ter sido uma pessoa melhor, e apesar de amar a pessoa com quem se relacionou, no momento que se encontra ela vai priorizar sua liberdade. Marina interpreta essa liberdade (pelo menos o que eu pude identificar) que nada está certo e errado, o que me levou a uma reflexão, ainda não cheguei uma conclusão, mas tem um argumento maravilhoso nisso tudo que eu preciso ainda expressar em palavras. É genial!



Em ''Blue'', Diamands cria uma canção alegre e melancólica, com arrependimentos e uma fragilidade de não conseguir esquecer o passado, nada que prejudique sua vida atual. Talvez aquela recaída de querer quitar uma pendência,  aos meus ouvidos isso soou como se ela quisesse ter contato com essa pessoa de novo para realmente oficializar o que sente e poder seguir em frente ou não.



A estética do álbum é totalmente colorida, mas não é feliz, muito menos infantil, a ideia é abordar um mesmo tema com diferentes formas. Os detalhes fazem toda uma diferença. A analogia que Marina criou é o básico de tudo nas nossas dores, o fim de um relacionamento pode ter várias cores e sabores. Os sentimentos ruins que envolvem essas situações são passageiras e logo dão lugar a uma pessoa preparada ''para ser colhida'', como ela brinca na letra de ''Froot'', carro chefe do álbum. Assim, pode até parecer mais do mesmo mas na prática me trouxe uma experiência musical maravilhosa, principalmente por ser pop de qualidade. 

Curti todas as faixas desse trabalho que não vai passar despercebido, por mais que Marina ainda trabalhe mais com underground, fuja de padrões, sem precisar ser uma diva pop; ela quer apenas fazer trabalhos bonitos, pensados e autênticos. 

Enfim, como ela mesma preferiu criar o álbum sozinha, isso torna ainda mais artístico e digno de minha admiração; ao contrario do anterior, nesse ela não se apoiou em homens. Em ''Electra Heart'' ela contou com ajuda de produtores consagrados do meio, um resultado incrível, mas ela foi muito além com ''FROOT'', provando ser uma artista completa.  Um trabalho de evolução, como ela mesma disse ''não apenas como artista e sim como pessoa também''. 


Viva a arte no pop!

O que é o fim do mundo perto da depressão? Eis a poderosa metáfora de ''Melancholia''.

''The earth is evil. We don't need to grieve for it. Nobody will miss it''. 



Um planeta chamado Melancolia está prestes a colidir com a Terra, o que resultaria em sua destruição por completo. Neste contexto Justine está prestes a se casar com Michael. Ela recebe a ajuda de sua irmã, Claire, que juntamente com seu marido John realiza uma festa suntuosa para a comemoração.


''Melancholia'' figura entre os meus filmes dramáticos favoritos da atualidade. Escrito e dirigido pelo polêmico Lars Von Trier, o longa apresenta uma atmosfera e sentimentos pesados que nos levam a inquietação, provocando reflexões sobre tudo em nossa volta e coloca o ser humano no ápice de uma depressão assustadora e cruelmente realística, independente do conteúdo esteticamente fantasioso e de ficção científica. Sempre que pensamos no fim do mundo geralmente vem em nossa mente imagens absurdas, de alguma forma gostamos de fantasiar e levar para outros lados, e nesse enigmático e surpreendente drama, o diretor explora tudo isso de uma maneira avassaladora! 




Odiado e amado, uma coisa é certa: quase impossível ficar indiferente a filmografia de Lars Von Trier. Quem gosta de megalomania, tramas transgressoras, vai amar, quem infelizmente enxerga  o mundo com o que apenas quer ver, vai odiar. Estamos falando algo vai além do que paramos pra pensar, são feridas e questões presentes na nossa sociedade que acredito eu nunca vai acabar e temos a arte pra mostrar isso ao mundo e diminuir essa dor que todos nós sentimos com a realidade. O mais incrível em Lars Von Trier não é (pelo menos o que eu percebi) jogar verdades absolutas e sim entender que o ser humano é diferente um do outro, é provocar reações, sentimentos diversos, cada um vê suas obras cada qual com sua maneira e isso é o que faz dele um artista que merece todo meu respeito. Baseado nesse fator, que deixo minha crítica aqui. É totalmente pessoal.




''Melancholia'' tem tudo que o diretor costuma fazer: tabus, estéticas cruas, diálogos incomuns aos padrões cinematográficos e o que mais me chama atenção e me fascina: o esgotamento psicológico dos personagens. Tudo isso jogado nesse liquidificador torna ''Melancholia'' fora do senso comum, pouco acessível e uma obra-prima do cinema moderno. Aqui encontramos duas belas mulheres, numa jornada  extrema  e típica de Lars Von Trier, representando a visão que o diretor tem da natureza humana. 

No filme vamos encontrar lutas constantes, da própria natureza humana de se preservar através de um sofrimento profundo de crises existenciais. O que torna um buraco negro em tudo que as personagens do filme vivenciam é a morte parecer fazer sentido diante de uma vida com esgotamento emocional e além de aceitá-la e também cultuá-la. Um espécia de se entregar ao incerto, querer ser exterminado e achar que merecemos isso. Forte, impactante e polêmico. O diretor numa de suas dinâmicas é potencializar seu universo, junto com personagens complexos e sem a preocupação de ensinar qualquer coisa, uma grandiosidade que pode incomodar os mais insensíveis. Talvez deixar o filme falar por si próprio.


Em ''Melancholia'' o mundo está prestes a acabar, isso atinge em cheio duas irmãs, Justine e Claire, defendidas magistralmente pelas ótimas Kirsten Dunst e Charlotte Gainsbourg. A partir disso, começa a nascer a depressão na trama, um tema que o próprio diretor entende muito bem e já vivenciou em sua vida. 

A arte do longa é incrível, artística e elitizada, mostrando em forma de fantasia o que vem a ser a trama em seguida, já é firmado a atmosfera pesada e os sentimentos dos personagens. Tudo simbólico, com frieza, crueldade e magnetismo. Ainda na introdução avassaladora de ''Melancholia'', temos Justine vestida de noiva tentando escapar de galhos de árvores que a agarram, a personagem numa tentativa de fugir do que sentia: tristeza, frustração e o famoso esgotamento psicológico de Lars Von Trier, onde no decorrer de suas vivências vem a se tornar depressão. O casamento de Justine era uma tentativa falha de se ver livre de tudo isso, mas ela estava vivendo só na ponta do iceberg.

A analogia principal já faz tremer os pilares da trama,  conforme o fim do mundo se aproxima, a esperança das personagens vão diminuindo, tudo na personificação de sentimentos em um planeta que ao chocar com a terra vem para acabar com tudo. Ambiguidade? 




''Justine, interpretada por Kirsten Dunst surge em cena esbanjando felicidade por seu casamento com Michael, revelando aos poucos sua verdadeira personalidade: uma mulher entristecida, que sorri apenas por saber que é isso que todos esperam dela – algo evidenciado pelas constantes indagações sobre sua felicidade: “você está feliz?”, perguntam insistentemente os convidados de seu casamento – e que, não hesita em entregar-se à uma expressão cansada e – claro – melancólica, assim que se encontra em seu intimo''. 

Junto as vivências de Justine, encontramos sua irmã Claire, mulher segura, séria, sempre com autoridade  e querendo tomar partido das situações,  com tentativas de sobressair a irmã. Nas cenas da primeira parte do filme, enquanto ainda estão celebrando o casamento, Claire chega ser odiosa, ela quer mandar na irmã, não respeita sua dor, é impressionante os embates e a forma que Lars Von Trier lida com a comunicação falha de duas irmãs de mundos diferentes. Enquanto isso, o fim do mundo vai ganhando proporções. É incrível perceber que ao passar do tempo, o acumulo de sentimentos, principalmente de Justine e sua total falta de interesse com o mundo, as irmãs se invertem. Justine começa ganhar mais poder sobre si mesma, coloca seus pés no chão e encara o que está para acontecer, ciente do fim do mundo e sua tristeza profunda. Claire começa a ficar desesperada, sem rumo com tudo em sua volta e até por não conseguir dominar as situações que se encontra junto com sua irmã e família.




Os pontos altos do filme, além de toda fantasia e realidade misturadas a apresentadas de forma mágica, uma direção perfeccionista e provocativa, passeia por tudo isso a dinâmica entre as irmãs, que é fantástico o modo que enfrentam seus medos, agonias e frustrações com a vida. Enquanto isso o mundo vai ficando cada vez ''menor'' e Claire antes não se importava com isso, no ápice de toda essa adrenalina psicológica começa a sair de si, o desespero que nunca vi igual, é sentimentos diversos, é o que o ser humano pode sentir além do comum, mesmo que ainda visto como ficção, eu acredito nessas possibilidades.


''Melancholia'' incomoda e muito. O que eu poderia dizer basicamente se alguém me perguntasse sobre o filme numa roda de amigos: a experiência de um apocalipse ainda mais desesperador: dentro de nós mesmo. A magia e genialidade de interligar duas catástrofes, naturais e humanas e que nada vai ser mais assustador que lidar com nós mesmos, o ser humano diante do caos  e  tudo em nossa volta, independente do que seja, se torna apenas alegorias. Lars Von Trier tira toda a sutileza que poderia existir nos temas abordados em ''Melancholia'' e inseriu essa metáfora genial e muito clara que podemos ilustrar sobre a depressão: ''Um planeta atingindo nosso mundo. O fim, é o fim em si mesmo''.




Lars Von Trier sempre colocou muita responsabilidade em cima de si, principalmente a tarefa de fazer o público SENTIR, independente da visão de cada um, É o entrar na trama, refletir e buscar até rever nossos conceitos através de personagens lidando com suas naturezas cruas. Ao parar para analisar, tudo no longa é muito simples, comparando com filmes anteriores do diretor, mas a eficiência de explorar com detalhes e perfeição a natureza humana é que deixa ''Melancholia'' sensacional. 


A cena final me deixou muito inquieto, até hoje passeia pela minha mente tudo que eu vi e tudo que eu pude sentir com essa experiência cinematográfica. Cada vez que eu penso, faço minhas reflexões mais tenho certeza de quanto somos pequenos diante de tudo que pode acontecer com a gente, meros mortais.

Nota: 10