Direção: John R. Leonetti
Roteiro: Gary Dauberman
''I like your dolls''
Ambientada em 1967, a trama apresenta o casal que se prepara para a chegada da primeira filha, ele um formando de medicina e ela uma típica dona de casa da época. Quando o casal é violentamente atacado por membros de uma seita, a boneca Annabelle passa a ser receptora de uma entidade do mal. A partir disso, começam as manifestações sobrenaturais na vida dos protagonistas, interpretados por Annabelle (rs) Wallis e Ward Horton.
O longa é envolvente, com uma trama charmosa inicial, funciona muito bem como drama e ao longo da exibição muito suspense e boas pitadas de terror bem trabalhados e articulados. Uma bela criação de terror atmosférico e psicológico. Os diálogos são simples e corretos.
No início apresenta o drama da maternidade quando os protagonistas passam a vivenciar problemas normais de quase todo casal com a tensão da espera de um filho. Cenas assim são inserções interessantes, até mesmo para o terror e possibilita ter várias visões da obra, não estereotipando em apenas um festival de assombrações gratuitas que automaticamente não mantém uma estrutura na história. Em Annabelle tudo acontece no seu tempo, as situações vão desenvolvendo e fechando o circulo.
''Dizem que uma piada bem contada é aquela que possui mini-piadas no decorrer da narrativa, como se fossem pequenas gags, que permitem que o ouvinte se divirta até o final. Com o horror funciona de forma parecida: uma boa história, considerada assustadora, não é aquela que termina bem, pessimista ou com uma surpresa ou susto final, mas aquela que permite que os arrepios acompanhem o leitor ou interlocutor durante todo o processo, deixando-o sem ar e com uma sensação incômoda de insegurança.'' Marcelo Milici, fundador do Boca do Inferno.
A ambientação é muito competente, parece realmente uma produção dos anos 60, reconstrução de época caprichada, enche a tela todos os detalhes sessentistas e acompanhado de uma direção natural, um pouco experimental e permite mostrar algumas situações de outros ângulos e formas. Durante os eventos sobrenaturais do longa é interessante perceber que se trata de uma época sem tecnologia, poucos recursos para ajuda; sem internet e celulares; dificultando a correria dos protagonistas e falhando na tentativa de salvação.
Uso como exemplo para ilustrar minha crítica, o filme Invocação do Mal: totalmente atmosférico e busca fugir do terror genérico, o foco é na tensão e adrenalina dos personagens em situações psicologicamente tensas. Eu entrei na história de Annabelle, surgiu empatia com os personagens e então valeu muito a pena. Longe de mim ser dono da verdade, pontos de vistas diferentes são sempre bem vindos e todos se complementam. Precisamos de mais conhecimento e menos senso comum.
Um ponto alto do longa e merecedor de atenção é a diferença de Annabelle para outros filmes com brinquedos malignos: Annabelle não é um Chucky da vida, ela não corre atrás de suas vítimas, não anda feito gente e não mata todo mundo que vê pela frente. No filme em questão pode até ser visto como algo negativo a Annabelle sempre parada e apenas o uso da sua presença para causar tensão. É um grande diferencial para o terror, possui grandes qualidades na narrativa e claro que não vai agradar a maioria. A boneca Annabelle é um conceito poderoso! Durante o longa, podemos perceber que a boneca está ali o tempo todo, recebe todo poder do mal e deixa claro suas intenções de destruições. É o que há de melhor no filme, o telespectador sente a presença de Annabelle, mas os acontecimentos virão de outros lugares, com inserções de personagens rápidos para assustar e deixar o clima ainda mais sombrio. Alguns exemplos: uma criança estranha ou um elevador com ''defeito''.
A história tinha tudo para agradar o grande público, é bem articulada, esclarecedora e estruturada para deixar sem pontas soltas. A trama chega flertar em questões que mereciam mais profundidade, como a maternidade e a força que liga a mãe com o filho, mesmo assim cumpre seu papel sem se perder nas suas emoções. Uma pena que a maioria prefere apenas um festival sustos fáceis e não dão chance para o terror/horror diferente, mais elaborado e com elementos que mexem com o nosso psicológico.
Com o ritmo industrial hoje em dia, os filmes estão assim, claro, no momento podemos ficar apavorados, mas nada que algumas horas depois para não lembrar mais. Resultados nada marcantes. Annabelle é provocante, tem uma mensagem, o envolvimento na história permite um mundo de muitas possibilidades e sentimentos. A ficção é grandiosa, não podemos apenas nadar na praia.
Na reta final, conhecemos Evelyn, interpretada por Alfre Woodard, uma mulher triste e sofre com uma grande perda e nos deixa com uma pulga atrás da orelha, mas eis que vem uma boa surpresa. Antes de tudo, uma pausa para o drama, onde conhecemos mais um pouco sobre Evelyn: cena bonita, tocante e vai ganhando um bom contorno no desfecho final. Apesar de não concordar com algumas passagens religiosas, achei instigante ter inserido no longa e deixou um ponto de vista diferente, me fez ter bons olhos com tudo que aconteceu na sequência final, até mesmo pela Evelyn com um grande destaque significativo para a trama. No caso dela, mais para o drama.
Finalizando: adorei a estrutura do filme em todos os sentidos, as cenas que se complementam e deixam a trama redonda, mesmo não superando as expectativas da maioria. Possui subplots que vão interligando com a trama principal e fazendo o gênero subir mais um degrau. Apenas a presença da boneca durante o filme todo já nos deixa inquietos e imaginativos. Fez sentido, cumpriu com sua proposta de ser um filme tenso, dramático e assustador.
Nota: 8.0
Gostei muito de Invocação do Mal, mas Annabele veio pra cá dublado e me recuso. Mas esse texto me deixou curioso, ou seja, prevejo que verei em breve
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