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quinta-feira, 10 de julho de 2014

Woody Allen nos anos 70



Sou um grande admirador do Woody Allen e através deste artigo espero conseguir expressar minha total admiração por ele. Tenho um enorme carinho por 3 filmes dele dos anos 70, não desmerecendo os outros da mesma década, até seus trabalhos irregulares ainda possuem qualidades e dignos de total atenção dos amantes de cinema.  Vou comentar dos filmes que de alguma forma 'mudaram minha vida', sem radicalismos, apenas serviram para ver o mundo de uma forma diferente, mesmo de uma maneira simples, um aprendizado. 



Vou começar pela comédia romântica, (arrisco dizer que é talvez o melhor filme do gênero) e também dividiu a carreira de Woody Allen: o clássico Annie Hall de 1977. No Brasil  recebeu o título esdrúxulo Noivo Neurótico e Noiva Nervosa. O estilo do longa é revolucionário e apresenta momentos bons e ruins na vida de um casal ''fora da casinha''. A deliciosa história de amor entre Alvy Singer e Annie Hall, interpretada pela magistral Diane Keaton. O filme se desenvolve com muita sofisticação e inteligência, amo todos os diálogos e as situações de identificação. Woody Allen cria um tipo de personagem neurótico viciado em psicanálise e não mede esforços com suas irônicas observações sobre o amor e sexo. Todos nós somos um pouco de tudo que é apresentado nessa história de uma simplicidade genial.


Diane Keaton sempre muito carismática

Adoravelmente problemáticos e realistas, aqui estamos diante de uma felicidade que não é precisamente fruto de algo idealizado. Essa é uma das lições que eu tiro do filme, é  uma visão de mundo que sempre me coloca a refletir. Woody Allen sabe como ninguém falar sobre relacionamentos. Talvez o único que consegue falar do tema, explorando o lado cru e simples das situações desse mundo tão complicado, ou a gente que complica? É ele sendo ele mesmo. Com a trama de Annie Hall tão vanguarda, considero obrigatório, uma aula sobre a vida e até mesmo para abrir nossos olhos/criar vergonha na cara e procurar resolver o que fingimos estar tudo bem, sempre nos escondemos da vida em algum momento. O longa é um choque de realidade, uma luta constante de sobrevivência no mundo real visto numa obra de ficção tão sensacional e com muito humor. 

     
Woody Allen e Diane Keaton em cena, um clima apaixonante


"must of us need the eggs..."


Aproveitando o embalo, deixo a sátira que o sitcom That '70s Show fez do filme, aliás, a atração ao longo de sua exibição fez muitas sátiras geniais com a cultura pop dos anos 70. 


                                      






Arthur decide abandonar sua esposa Eve e revira sua família de cabeça para baixo, agravando ainda mais os problemas de relacionamento que suas três filhas tinham entre si e o resto da família. A partir disso, Interiors de 1978, no Brasil Interiores o clima pesado prevalece, mas não é um ponto negativo, é o que faz o filme  acontecer. Opressivo  e intenso, uma forte referência aos dramas dirigidos por seu maior mestre, Ingmar Bergman. Com boas doses de reflexões sobre a família e suas relações imprevisíveis, as três irmãs da trama convivem com uma dura realidade: a separação dos seus pais, divórcio que está sufocando e matando Eve, a mãe delas. Aqui estamos diante de uma família, um tema tão rico e universal. O filme incomoda e muito.





Voltando ao contexto da trama, tudo é tão vazio, gélido e espaçoso, sobram sentimentos, é um espetáculo para quem gosta de sentir, pensar e se envolver em complicadas relações realistas sob uma visão única. A forma que Woody Allen conta suas histórias é um dos motivos para eu ser um apaixonado por cinema. Os sentimentos não estão vivos, o que é para ser dito muitas vezes o silêncio domina. É nesse silêncio de palavras que existe um trabalho magnífico na dor presente nesta família.




É um filme diferente de Woody Allen, ele arriscou e acertou, seu humor conhecido que dominava seus filmes anteriores ficou de lado com planos estáticos. Um trabalho tão artístico e delicado, principalmente por estar inserido o luto, dor e angustia, sentimentos merecedores de muito destaque em qualquer dramaturgia e tão presentes em nossas vidas, são eles que nos movem e vão construindo quem somos. Interiores trabalha muito bem essa temática avassaladora. Um filme especial, porque seus caminhos não são confortáveis, genéricos e aqui as pessoas não vão olhar apenas a ''ponta do iceberg''. O trabalho de Allen é sereno, um mergulho na dor, na tentativa de entender o silêncio que fica entre diálogos. Diane Keaton mais uma vez presente, maravilhosa como sempre, tudo que ela faz consegue cativar.


"All the beautifully furnished rooms, carefully designed interiors, everything's so controlled. There wasn't any room for any real feelings"




Manhattan de 1979 tem o que há de melhor em filmes românticos, contando a história de um homem apaixonado por Nova York, que cai de amores pela mulher de seu amigo. Existe mais uma vez a  homenagem à cidade de Nova York, não limitando apenas como um pano de fundo. A cidade é também uma personagem, uma coadjuvante de luxo para uma trama ágil e divertida. A fotografia é belíssima, trabalho de Gordon Willis, (O Poderoso Chefão). Woody Allen cria aqui seu filme visualmente mais belo, os personagens, suas interações, é uma delícia de acompanhar e as vivências cotidianas de pessoas que mais uma vez poderia ser qualquer um de nós. A cena final é de um encanto que sempre me emociona!





 

É o cotidiano de uma grande cidade, diálogos maduros, rápidos e bem temperados e claro o humor sempre acima de tudo. A ironia, felicidade em variadas formas, angustia e o essencial questionamento sobre a vida é misturado, é Woody Allen! Atemporal!




Somos todos frágeis, confundimos tantas coisas com amor e também inseguros e neuróticos, ou seja: seres humanos. 

A  fotografia é preto-e-branco, consegue trazer todo o romantismo que o cinema perdeu ao longo das décadas. Mesmo em situações que poderiam ser dramáticas, conseguimos lê-las sob o prisma cômico. Tocante e inspirador.

Meryl Streep lindíssima e novinha ao lado de Woody Allen.

Muitas pessoas em nossas vidas, principalmente as próximas, se corrompem a troco de nada e por motivos tão fúteis e até mesmo inexplicáveis que ao longo da vida perdemos nossa confiança com o mundo principalmente no nosso círculo de amizade. Mas de alguma forma que só mesmo a vida para nos mostrar aqueles que realmente amamos e são dignos de nossa confiança, carinho e respeito.


Enredo simples porém muito cativante. Deslumbre inigualável.





" You have to have a little faith in people"


5 comentários:

  1. O que é a direção de arte do INTERIORES? Aqueles cenários... Ótimo post. Aliás, ótimo Blog! CAVM.

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  2. Direção maravilhosa, é um filme bem atmosférico, você entra na história!

    Obrigado, CAVM, volte sempre! :)

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  3. Woody Allen é meu cineasta preferido e Manhatan é um daqueles filmes que quero ver todo dia.
    Mas eu amei demais esse texto. O jeito que vc descreve, faz eu me apaixonar cada vez mais pelo Woody e olha que já li esse texto várias vezes!

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    1. Muito querido você, Carlos... eu acho que não escrevo tão bem, sempre fico meio com receio. hahahahaha mas esse é um dos textos que eu mais gosto! :D

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    2. Quando eu li esse texto meu box de 20 filmes do Woody tinha recem chegado e eu não tinha visto Interiores. Vi no mesmo dia. Sobre a cena final de Manhatan é meu protetor de tela haha

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