Já faz alguns anos que eu venho percebendo uma leve mudança
na estrutura dos seriados. Interessante a ideia dos criadores trabalharem no
formato ‘’antologia’’, que implica iniciar e terminar a trama na mesma
temporada, resultando histórias diferentes todos os anos sem perder o foco do
estilo, seja drama, terror, comédia etc. Ao meu gosto particular por terror, isso me
agradou em cheio, pois em boas mãos a história fica bem contada, e sem
aqueles ‘‘esticamentos’’ que acabam com a essência e proposta inicial da obra.
Nesse ritmo industrial que a TV vem passando e só tem
aumentar, o público mais crítico e com a mente na evolução do audiovisual já
demonstra cansaço com séries que duram nove, dez temporadas e que se desgastam, mas
de alguma forma são rentáveis principalmente quando se trata de atores que tem
nome na publicidade.
Um dos artistas do audiovisual que eu mais admiro na
atualidade é Ryan Murphy e vem trabalhando nesse formato. Seu estilo atual de teledramaturgia
é o terror e ele sempre se renova, isso a meu ver é um
grande exercício de criatividade para uma nova geração moderna e precisamos
caminhar juntos.
Com a nova geração cada vez mais exigente, autor de nome que
é o caso do Ryan Murphy consegue dialogar com o público, vê o que não está
agradando e procura sempre apresentar nas suas obras uma mudança cada vez mais
significativa, tanto para o lado artístico quanto para o comercial. Sua mais
recente obra ‘’Scream Queens’’ é no
formato antologia, uma trama que homenageou ‘’slashers’’ dos anos 80 e inseriu
elementos de comédia (humor negro) e muitas críticas sociais bem apuradas, já
entrou no hall de obras vanguardistas da TV americana e merece sim ser vista por
quem ama teledramaturgia e terror. Junto com essa série, estava no ar também ‘’American
Horror Story – Hotel’’ que foi entregue seu final recentemente e a próxima
temporada já podemos esperar outra história de terror e a grande grife que Ryan
Murphy sempre imprime ao apresentar suas narrativas.
Hoje em dia uma boa história pode ser brevemente contada
independente do seu formato. Uma novela não precisa mais de oito,nove meses no ar, um
filme não tem necessidade de duas, três horas de duração e as séries podem sim cada
vez mais caminhar para as antologias. Só analisar o que vem acontecendo
atualmente com seriados que já deveriam ter finalizados, por exemplo a péssima ‘’Supernatural’’,
a mais que saturada ‘’Pretty Little Liars’’ e a desconstrução de Grey’s
Anatomy. Tudo se perde, pode sim ter uma boa história mesmo com mudanças
através do tempo, mas pode ter certeza que a maioria não se sentirá mais satisfeita,
pelo simples fato de acabar com uma obra visando o ritmo industrial e sua
estabilidade no mercado. O lado artístico sai de cena pra entrar uma (com o
perdão da palavra) bola fecal de empobrecimentos no audiovisual. Retrocesso
puro sem perspectiva de futuro. Não se pode parar no tempo, o mundo segue,
estamos aqui para renovar e criar uma nova linguagem de teledramaturgia e claro,
apoiados no que foram criados nas décadas passadas, os grandes registros de época que
se interligam com as ideias novas.
Não podemos esquecer as mais variadas formas de consumir
teledramaturgia hoje em dia. Até os anos
90 o público tinha somente a televisão para ficar ligado nos filmes, séries e novelas, mas isso mudou. Entramos numa era de muita tecnologia e o uso da ‘’Netflix’’
como um bom exemplo disso que não decepciona. Independente da qualidade de suas
produções, o streaming trabalha com o que vivemos hoje em dia, enfrenta a velha
guarda da teledramaturgia, apenas como um modo de ter um espaço para quem
busca um novo meio de entretenimento, tirando esses padrões que vem se
repetindo durante anos a fio e acaba deixando os telespectadores robozinhos de
uma indústria extremamente comercial.