Concluir uma história, independente do formato que está
inserida é uma tarefa difícil. Normal ser apresentado para os telespectadores,
principalmente dos filmes de terror um padrão de susto, que funciona, mas
também cansa. Valorizar a criatividade, questionar o óbvio é um ótimo meio para
o telespectador estar sempre com a mente ligada na autenticidade, liberdade
criativa, visão critica, e claro, sem deixar de lado o maior motivo de uma obra
de ficção: entretenimento. Não estou fazendo essa introdução só para quem é da
área, e sim serve para nossas vidas, olhar o mundo de vários ângulos.
Eu já comentei em algum post antigo que os filmes de
terror são ótimos para trabalhar a estética, é um mundo de possibilidades e com
uma mente engenhosa resulta em obras
magníficas. Antigamente, os filmes independentes, mais conhecidos como filmes
B, abusavam da criatividade. O lado visual enchia a tela, muitas vezes um fiapo
de história, mas com acontecimentos alucinantes, absurdos, divertidos que deram
a essas obras status de Cult com o passar dos anos. Os realizadores não tinham
recursos tecnológicos de hoje, precisavam se virar para criar um resultado
satisfatório na tela, e conseguiam. Nisso, a criatividade dominava e as obras
nesse estilo podem até serem datadas, mas são grandes registros de época.
Alguns filmes que estão na minha lista pessoal de ‘’queridinhos’’,
possuem finais fascinantes, inventivos e autênticos. Gostaria de dividir com
vocês algumas dessas obras que até hoje mexe com meu imaginário, são aulas para
minha futura carreira no Audiovisual.
5) Friday the 13th – 1980 (Sexta-feira 13 no Brasil)
Eu adoro tudo que envolve ‘’Sexta-feira 13’’, principalmente
a sua concepção. Os realizadores assumiram que só queriam um filme comercial
para lucrar apenas na época de exibição com carona no autêntico ‘’Halloween –
1978’’ de John Carpenter. Conseguiram mais que isso, além do sucesso comercial
com os jovens que adoravam ir no cinema para ver mortes sangrentas, com o
passar dos anos, a obra de Victor Miller e Sean S. Cunningham ganhou status de Cult,
atravessou gerações, serviu de base para os futuros filmes deste estilo e
lançou um dos vilões mais emblemáticos e icônicos do cinema de terror: Jason
Voorhess. Não posso esquecer-me de citar Tom Savini, inventivo e excelente
maquiador/técnico de efeitos especiais que deixou a obra não tão trash, com seu
trabalho realista e chocante para a época.
A seqüência final, depois da grande revelação (plot twist),
a narrativa trabalha um dos elementos mais clichês do terror, mas que aqui,
funciona muito bem: a ‘’final girl’’. A única sobrevivente daquela fatídica
noite de sexta-feira 13 foge incansavelmente das garras de Pamela Voorhess, mãe
de Jason. É um corre-corre delicioso, com direito a tabefes e delírios de uma
mãe doente em busca de uma vingança absurda para o filho. Quando Alice, a
mocinha, pensa que está livre e poderá enfim fazer algo para sair daquele
pesadelo, ela vê Pamela Voorhess refletida na água do lago e começam uma luta
coreografada, totalmente over e divertida. (leia-se aqui: humor involuntário).
Com a possibilidade de um cheque-mate, Alice não perde a oportunidade e vai
para cima da rival e ocorre uma decapitação. Curioso, que o filme terminaria ali,
mas os realizadores buscaram mais, queria que o final desse um susto no público
e então Alice entra na canoa e vai parar no meio do lago de ‘’Camp Crystal Lake’’.
Ao amanhecer, toda esbaforida e esparramada na canoa, ela
avista um carro de polícia, quando pensa que seu pesadelo chegou ao fim, surge
uma criatura deformada e bizarra e a puxa para água; claro que foi tudo um
sonho, Alice acorda no hospital e pergunta da criatura que a puxou, mas o
policial diz que não encontrou ninguém. O filme termina com ela dizendo ‘’He's still there’’. Com tom melancólico, sobe os créditos finais.
A obra abriu a década de 80 com muito louvor, ainda mais se tratando da época de ouro do slasher americano.
4) The Evil Dead – 1981 (A Morte do Demônio no Brasil)
The Evil Dead figura numa das obras mais inventivas do cinema de terror. Não é para menos, Sam Raimi reinventou a fórmula de terror, muito usada depois do lançamento deste filme. Desde como usar uma câmera, ângulos que até hoje não sabemos como ele fez, devido o baixo orçamento e poucos recursos, incluindo uma cadeira de rodas para movimentar câmera e um suporte feito pelo próprio Raimi para criar imagens dos espíritos [em primeira pessoa] andando pelo pântano e atingindo a famigerada cabana do longa.
Sam Raimi tinha algumas regras que seguiu na sua concepção de Evil Dead e seus futuros filmes: os inocentes devem sofrer; os culpados devem ser castigados; deve se provar de sangue para se converter em homem (essa acho bleh); e os mortos levantarão. Nisso, com uma mente extremamente criativa e enfrentando muitas barreiras de uma obra independente e amadora, Evil Dead é um grande exemplo de vanguarda e merece ser sempre visto e lembrado.
No final todos morrem, inclusive Ash. [no segundo filme não é isso que acontece, mas já é outra história, sem ligação com o primeiro]. Depois que todos seus amigos tiveram rostos distorcidos pela possessão, desmembrados em lutas, o grande protagonista até então intocável pelas forças do mal, está diante de um caos ainda maior: corpos entrando em decomposição e sobrando apenas restos mortais com direito a baratas e um stop motion alucinante e MUITO NOJENTO. Só perde para ''Braindead'' de 1992 em nojeira. Ash finalmente ''se livra'' dos demônios, seus amigos também, mas não existe maneira de voltar atrás, eram apenas carcaças na cabana, sem contar uma estraçalhada/enterrada no quintal e sua namorada decapitada.
Amanhece, Ash sai da cabana, lá no fundo um demônio ainda está a solta,[primeira pessoa] passa pelo bosque, entra na cabana, chega a até a porta da frente e ataca o protagonista. Nem ele escapou.
3) I Spit on Your Grave - 1978 (A Vingança de Jennifer no Brasil)
Vingança feminina é sempre muito chamativo, eu particularmente sempre tenho bons olhos para obras assim. Eu adoro ''I Spit on Your Grave'', mesmo com todas suas controvérsias e polêmicas geradas quando se trata de feminismo. Eu confesso que fiquei confuso quanto a isso, ainda procuro clarear minhas ideias, mas aqui quero falar da estética, o impacto que essa outra obra independente do terror (psicológico agora) causou na época e continua incomodando.
Você está numa casa isolada, querendo paz, deixar a liberdade fluir para escrever um livro e sua postura e atributos estéticos chamam atenção de caipiras locais e cada um com assustador desvio de caráter. Nisso, Jennifer se vê dentro de um pesadelo, onde é estuprada e torturada pelos quatro rapazes num clima muito pesado, doentio e sem nenhuma trilha sonora. Todo o abuso é muito realista, chocante e perturbador. Filme seco, violento e com uma narrativa curiosa de apresentar os fatos, eu fiquei paralisado a primeira vez que vi, até por não se distanciar da realidade, já vimos até coisas muito piores nos noticiários.
Claro que Jennifer se recupera e planeja uma vingança para cada um dos rapazes. Quando percebem que ela está de volta naquela redondeza, cada um é atraído por ela, e então recebem seus devidos castigos. Eu esperava mais, porém o filme segue potente na sua proposta.
O filme termina com Jennifer no barco, satisfeita e indo não se sabe para onde. Os créditos estão passando na tela e a cena continua. Acho esplêndido!
2 Sleepaway Camp - 1983 (Acampamento Sinistro no Brasil)
''Acampamento Sinistro'' é um slasher diferente, bonitinho e muito charmoso. A narrativa é bem arquitetada, com bons argumentos no desenvolvimento e muito ''parado'', mas uma lentidão que age brilhantemente dentro da proposta do longa. O filme é conhecido por ter um dos melhores e mais chocantes finais de filmes de terror de todos os tempos. Eu ADORO, ainda mais com uma trilha sonora maravilhosamente datada dos anos 80. Angela figura numa das personagens mais emblemáticas da época de ouro do slasher. Arrisco comentar que não cabe muito entendimento, eu apenas super indico e tirem suas próprias conclusões. Assistam com a mente aberta e com muita boa vontade de refletir. Mais um belo caso de vanguarda. É insano! Um ótimo exercício mental! Talvez sua proposta maior na resolução seria mexer com nossos sentidos, uma arte sensorial! Não colocarei links aqui, vocês precisam acompanhar a trama desde o início, o resultado final para ser do jeito que eu citei a cima depende de toda linha de desenvolvimento. O filme teve outras sequências, que eu achei extremamente desnecessárias, é mais um caso que eu fico só com o primeiro filme.
1) The Texas Chain Saw Massacre - 1974 (O Massacre da Serra Elétrica no Brasil)
''O Massacre da Serra Elétrica'' ainda assusta, perturba e sua trama chocante faz deste longa um dos melhores filmes de terror de todos os tempos. Desde sua atmosfera, até a cena mais explicita de tortura e morte. É mais um filme de terror independente, com muita liberdade criativa e uma direção que coloca o telespectador em uma trama que causa agonia, sustos fora de padrões, suspense de deixar o coração na boca e toda uma carga de sentimentos mais avassaladores que do ser humano. Eu adoro este filme, as outras versões não me cativaram, falta a autenticidade que só Tobe Hooper soube dar a esse caso fictício extremamente doentio e um brilhante filme de terror que jamais será superado.
O filme foi filmado em 16mm e convertido para 35mm, deixou o clima ainda mais realista e com aspecto amador. O diretor aproveitou isso e usou para instigar ainda mais o público. Na sequência final, nota-se muito mais esse clima, tudo acontece tão real, você torce pela mocinha, apesar do óbvio de sobrevivência, mas a forma como é apresentada é de uma genialidade rara, tudo bem costurado e lindo de se ver. No final, muitos dão um sorrisinho de felicidade pela protagonista. Uma aula de terror!
No final, a mocinha escapa da casa onde estava sendo torturada pela família do Leatherface e sai correndo. Leatherface vai atrás dela, com outro da família, esse é atropelado por um caminhão, o motorista percebendo toda situação, sai e quase vira vítima do psicopata. Muitos gritos, pernas machucadas impossibilitando uma fuga maior, o barulho da motossera, tudo deixa essa esquizofrenia ainda mais alucinante. Surge uma caminhonete, a mocinha sobe e escapa de Leatherface, o deixando muito zangado por uma 'missão' não concluída, sozinho e a motosserra expressando sua fúria. A felicidade da mocinha é contagiante! Ela está feliz e apavorada ao mesmo tempo, interpretação magistral de Marilyn Burns, (In memoriam). <3
ps: Martyrs de 2008 foi uma grande surpresa para o mundo! Final extremamente inovador e chocante. Fiz um post alguns meses atrás que eu comento sobre esta obra. Dêem uma conferida. Reservei esse espaço para os antigos do meu coração! :)