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quarta-feira, 20 de agosto de 2014

2 versões cinematográficas obscuras de Alice no País das Maravilhas

Creio que praticamente todos tem um certo conhecimento, mesmo que tenha só ouvido falar da história de Alice no País das Maravilhas que foi eternizada pela Disney com a clássica animação de 1951. Antes de entrar nas versões cinematográficas, vou falar um pouco do livro, que se tornou a criação mais conhecida de Lewis Carroll,  pseudônimo de Charles Lutwidge Dodgson, publicada em 4 de Julho de 1865.


Alice é uma menina que cai numa toca de coelho e a  transporta para um mundo fantástico, cheio de criaturas peculiares e antropomórficas. A partir disso, revela-se a lógica do absurdo, característica de nossos sonhos. A trama original é cheia de referências linguísticas, matemáticas, sátiras e usando muito de enigmas que contribuíram para a popularidade do livro, que é muito exótico e curioso. A obra é de difícil interpretação, ainda mais com sua linguagem do século 19. A Disney com sua versão ''infantilizou'' a obra, colocando elementos de fantasias para atingir as crianças e tirando a complexidade e proposta da história. É adaptação mais conhecida pelo grande público.

Sobre a história em si, não vou entrar em detalhes, contém spoilers, mas aos interessados indico essa pesquisa, para os amantes de esquisitices é de encher os olhos, uma maravilha!

Algumas ilustrações originais
O livro é de várias interpretações, uma delas é a representação da adolescência, a entrada súbita (toca do coelho) nesse mundo, com as diversas mudanças de tamanhos de Alice, causando confusão na sua cabeça e deixando a pobrezinha até sem entender a si mesmo diante de tantas transformações. (se estuda muito isso na psicologia da adolescência). Os acontecimentos ficam subentendidos, mais fatores que contribuem para a complexidade da obra, que é muito rica, tanto em narrativa quanto nos seus simbolismos e detalhes.

Curiosidade: 


A menina da foto é Alice Liddell, (1852 - 1934) que inspirou Lewis Carroll na sua criação. Carroll a conheceu durante uma sessão fotográfica que ela participava e virou sua grande paixão, mas ficava irritado e ofendido quando achavam que seu interesse era mais que o gosto pela companhia. Existem teorias/boatos/especulações sobre indícios de pedofilia, mas não quero entrar nesse assunto e nem cheguei a me aprofundar sobre isso. Meu interesse é sua obra fascinante! 

Em 1880, Liddell se casa e Carroll não estava presente no seu casamento mas enviou-lhe por meio de um amigo, um presente. Ela passou boa parte de sua vida divulgando as obras que foram escritas sob sua inspiração, (outra obra: Através do Espelho - 1872). Teve três filhos, viveram com ela até seu último dia de vida. 

As incríveis adaptações cinematográficas: 

De todas as adaptações antigas e obscuras que eu assisti de Alice, gostaria de compartilhar duas com vocês. São tão maravilhosas que não cabe em palavras. São fascinantes e desconhecidas pelo grande público, ainda mais que foram feitas numa época distante, quando o cinema ainda era experimental, estava nascendo e é muito interessante conferir essas pérolas perdidas no tempo. São inacreditavelmente bem feitas, contém efeitos especiais que deixa as obras vanguardistas.

Claro que eu vou falar da primeiríssima adaptação de Alice no País das Maravilhas, de 1903. Os efeitos especiais são brilhantes, aos amantes do filme, este se tornou memorável pelo uso de tais efeitos, praticamente impensáveis na época.



Até hoje custo acreditar que foi feito nessa época, é uma aula de cinema! Não existia praticamente nada para contribuir com as cenas visuais e mesmo assim o filme aconteceu. Assistindo hoje em dia pode causar um estranhamento, ter uma vibe bizarra, até em mim isso causa o que deixa a obra ainda mais incrível. Na época foi o filme mais longo da Inglaterra, (12 minutos, mas 4 minutos estão perdidos, os 8 minutos que nós temos foram restaurados).



Versão original: Clique aqui
Versão restaurada pelo Arquivo Nacional do British Film InstituteClique aqui


Em 1915 foi lançado Alice no País das Maravilhas com uma narrativa mais elaborada, com 52 minutos. Todo o processo da personagem é admirável, um trabalho impecável de produção, ótimas locações, adereços e várias cenas que foram muito bem trabalhadas o lado 'visual'. Igual a primeira versão, essa também conta com efeitos especiais.






Outro exemplo de filme vanguardista, considerado por muitos a melhor adaptação. Durante o filme, é maravilhoso analisar os detalhes, o cuidado que W. W. Young teve ao desenvolver Alice no mundo da fantasia. É tudo muito bonito e repetindo o que disse sobre o anterior: inacreditável. As cenas são lindas, capricho da cenografia é um grande exemplo a ser analisado, sem contar o charme que os filmes silenciosos possuem. O filme também pode ser usado como um grande exemplo do novo cinema, deixando seu lado teatral pra trás, quando ele ainda estava em experimento e usava de apresentações para criar cenas/esquetes aleatórias. Os dias de ''câmera fixa'' estavam contados, com esse filme quero mostrar o início da exploração cinematográfica, em suas mais variadas formas de dirigir suas cenas. Aqui é o começo, existe a câmera fixa, mas é o desabrochar de uma nova era no cinema. (apenas um exemplo de muitos filmes rodados na época)

Para assistir Clique aqui

A lista de adaptações é grande, mas minha intenção era apenas compartilhar essas duas, tão pouco faladas e tão pouco se sabe. Mas estão aí, são presentes para nossa geração, grandes exemplos de cinema na época que ainda nem era considerado cinema por completo. Uma fase muitas mudanças, profissionais que trabalhavam com o caos que o mundo vivia na época, muitas obras eram feitas sob inspirações de acontecimentos horríveis, que é o exemplo do expressionismo alemão e seus cenários distorcidos, tema para uma futura matéria aqui no blog. 





domingo, 3 de agosto de 2014

Top 5 - Filmes de terror da atualidade



#1 Martyrs - 2008



Quando comecei assistir o filme, não esperava nada dele, posso dizer que eu me surpreendi e nunca mais vou esquecer. A princípio parece uma trama normal, muita violência e vingança. Martyrs vai muito, muito além, todo o mistério do filme, até levando acreditar que as cenas gore são gratuítas, vale a pena pelo desfecho genial, mas GENIAL mesmo, Pascal Laugier reinventou o gênero, explorando um lado obscuro do ser humano difícil de lidar a primeira vista, nunca pensei que assistiria algo tão bom que mexesse comigo de uma maneira arrebatadora. Todos que assistiram tiveram a mesma reação, sem exagero, é tão grandioso, psicologicamente assustador que acredito que vai demorar muitos anos para desbancá-lo. Quando o filme termina, além de você ficar com o queixo lá no chão, tudo começa a fazer sentido, cada segundo do filme que até a sequência final parecia apenas um espetáculo gore sem ligação com nada. O cinema de terror francês tá vindo com tudo atualmente!


Martyrs é chocante, perturbador e muito cruel. As suas cenas cruas de extremo realismo não vão deixar você na tranquilidade, existe um desequilíbrio que em palavras se torna muito difícil. Um dos filmes mais originais que já vi na minha vida.

''Por mais que o ser humano busque a paz e reprima seus instintos mais animalescos, na obscuridade de cada pessoa sempre há a curiosidade de explorar a violência, o desequilíbrio, a impetuosidade que reside no silêncio da alma humana''.


Já considero o filme um clássico, pela sua complexidade e com seu final extremamente doente e egoísta. Quando se trata da busca de respostas o ser humano não tem limites. São reflexões, criticas sociais capaz de tirar o mais insensível do seu conforto. O filme não é pra qualquer um, não é arrogância de minha parte, longe de mim, pense muitas vezes antes de assistir, o conteúdo não sairá da sua mente tão cedo. Não é apenas um filme de terror!

#2 The Conjuring - 2013 


Casa mal-assombrada, entidade obscura e suspense típicos do gênero, só que trabalhados de um forma brilhante, graças ao diretor James Wan, que sempre capricha nos detalhes das situações acompanhado de um clima que faz a gente sentir medo só de imaginar no lugar dos personagens quando estão em ambientes assustadores. Para completar, baseado em fatos reais. James Wan é talvez um dos grandes diretores do estilo na atualidade.


O filme possui uma genialidade pura, todo seu planejamento de atmosfera beira a perfeição, Wan e seu dom de criar momentos excelentes com pouco, ou seja, um filme que não tem a necessidade nenhuma de ser explícito e o público cria o medo, os momentos de tensão brinca com nosso imaginário, uma experiência maravilhosa! Momentos assim, também tem seu valor, são assustadores mas não são todos que conseguem criar, é arriscado, o público sempre espera ver o mais explícito possível as cenas de terror, limitam o gênero apenas nisso. Diretores como James Wan prova que o medo é um buraco negro e não desmerecendo nenhum estilo de terror (adoro todos)!

#3 Mama - 2012 


Escrito e dirigido por Andrés Muschietti acompanhado de Guilhermo Del Toro e suas ideias incríveis na produção, cria-se imagens que dá um ritmo interessante para o suspense/terror de Mama. Mais um caso de uma boa exploração dos artifícios não necessariamente explícitos que assustam, com uma história bem contada e um final digamos... diferente, eu demorei pra conseguir lidar, mas embarquei na pira, considero um filme muito legal e indico para assistir no fim de semana com amigos.



Filme agradável mas sem muita profundidade, sua qualidade está na estética, é uma trama simples bem contada. Uma intrigante história de fantasma que vai te dar calafrio e até mesmo emocionar. O longa está longe de ser um filme que vai ficar na história, mas cumpre seu papel dignamente, pode até ser mais um na vasta lista de filmes de terror atuais, mas particularmente acho especial para o gênero. Posso dizer que vale a pena por ser uma fábula e no seu desabrochar apresenta algumas cenas que humanizam a entidade sobrenatural. Mama é o medo de duas irmãs assombradas por um fantasma materno.



Assista ao curta Mamá, que deu origem ao filme aqui.


#4 Insidious - 2010


Você se muda para outra casa querendo escapar de assombrações mas descobre que não era a casa que estava assombrada. Partindo de um plot curioso, Insidious apareceu timidamente e conseguiu me agradar em cheio. É outro terror com suspense caprichado do James Wan, que nos apresenta momentos de tensão que prende até o fim e uma parte técnica ousada.


O filme tem grandes chances de não se tornar clássico e até um pouco obscuro devido a tantos filmes de sucesso hoje em dia, mas vale a pena por apresentar um terror pouco explorado para a nova geração, tão acostumada com produções comerciais de sustos grátis. As sequências que o protagonista vai para o além, são a prova que o filme vale muito a pena, quem busca um diferencial no terror, indico e aos ''terrormaníacos'' logo em sua maioria acredito que vão adorar, devido a sua pegada trash oitentista, a parte final tem um clima bem teatral e conta com gelo seco, figurinos bregas e um universo bem peculiar.


                                #5 The Strangers - 2008


Acho o filme um pouco incompreendido, ele possui muita tensão e alta dose de terror psicológico. Talvez o problema que a maioria encontrou no longa é a forma ''gratuita'' que tudo acontece. Primeiramente estamos falando de psicopatas, pessoas frias que são capazes de tudo, até mesmo torturar pessoas apenas por diversão. Não muito diferente do que acontece na realidade. Em The Strangers, acho a proposta muito válida, acompanhada de um clima que causa desconforto.


A própria frase do filme já nos dá uma dica do que vem por aí. O longa nos mostra que não precisa de motivo (s) para fazer maldades, existem pessoas doentes o suficiente para acabar com as outras, não importa quem, o que estão fazendo, até mesmo um simples casal com problemas de relacionamento numa remota casa querendo descansar. Eu consegui embarcar na vibe e não acho absurdo pessoas que matam pelo simples prazer. Seus elementos são clichês, mas sempre funcionam quando bem trabalhados, que foi o caso desse filme que já no início prende o telespectador, a qualquer momento tudo pode acontecer. Outro bom exemplo de terror atmosférico que enche a tela! Também baseado em eventos reais.